Podcast é uma mídia ou um formato?
Como o YouTube mudou a percepção das pessoas (e a minha, principalmente) em relação ao conteúdo em áudio.
Essa é uma atualização de um texto escrito por mim em Fevereiro de 2021. Praticamente 3 anos depois, muita coisa mudou. Não apenas dentro da minha cabeça, mas no cenário brasileiro de podcasts como um todo.
Uma indústria que faz cada vez mais dinheiro, mas que necessita do YouTube para a maioria dos projetos serem financeiramente viáveis.
Relendo esse conteúdo, acho necessário acrescentar alguns comentários.
Comentários esses que refletem quem sou hoje e como enxergo o mercado.
Caso você queira ler apenas o texto antigo sem [meus comentários entre colchetes]…
Este é o link
Título aqui
Recentemente conversei com um potencial parceiro para um novo projeto, e entre as mensagens trocadas, uma pergunta me fez pensar muito tempo sobre o crescimento do podcast no Brasil nos últimos anos e a consequência da forma como esse crescimento está ocorrendo:
“Você só trabalha com áudio hoje? É porque estou interessado em uma experiência mais audiovisual”
Eu produzo podcasts desde 2016/2017 [Final de 2016, acho que Novembro]. E já naquela época, integrando o falecido Saideira junto com os amigos Marlon Faria e Arthur Tinoco [saudade desses caras], nasceu meu desejo em trabalhar com podcasts. Entretanto, nunca tive grandes pretensões com este projeto, pois era um programa gravado apenas nos momentos em que sobrava tempo para os três participantes se encontrarem (em um mundo pré covid-19, sempre prezamos muito pela gravação presencial).
Eu estava na faculdade de Design Gráfico e trabalhando a noite. Marlon já trabalhava na redação de uma grande empresa e o Arthur estava terminando sua faculdade de História.
Ou seja: Foi ingênuo da nossa parte pensar que manteríamos o podcast por muito tempo.
Seria ótimo se o Saideira nos rendesse algum dinheiro — e rendeu! — mas nada perto da possibilidade de pararmos nossas vidas para nos dedicarmos 100% ao projeto.
Hoje o cenário é um pouco diferente. [lembrando que esse texto é de 2021. Hoje, 2024, o cenário já mudou bastante de novo].
O podcast ainda é uma mídia muito menos conhecida e explorada no Brasil do que o YouTube, a televisão, o rádio e etc.
Mas desde a compra da plataforma Anchor e a produtora Glimlet Media pelo Spotify no final de 2018 [posteriormente o streaming de músicas acabou com o Anchor, transformando-o no “Spotify for Podcasters”, seu próprio serviço de hospedagem de podcasts], conteúdos distribuídos via podcasting estão ficando cada vez mais comuns em terras tupiniquins.
[Atualmente, vejo que os podcasts estão muito mais difundidos e fazem parte do dia a dia das pessoas. No entanto, ainda são pouco explorados. Grande parte dos podcasts brasileiros no YouTube seguem a mesma configuração popularizada pelo Flow, importado do podcast do Joe Rogan.
Na minha opinião, há espaço para fazer coisas diferentes e explorar a mídia de maneiras inovadoras. Por exemplo, o Brasil é um país apaixonado por novelas. Seria interessante ver uma empresa como a Globo investir em conteúdo dramatizado exclusivamente para áudio, algo pensado para ser veiculado semanalmente. Isso poderia revolucionar as radionovelas, assim como a própria Globo conseguiu trazer uma linguagem mais cinematográfica para suas novelas no horário nobre.]
Nessa onda, surgiram também os chamados “podcasts” no YouTube. Longas entrevistas descompromissadas prezando mais pela aleatoriedade da conversa do que pela qualidade de produção dos episódios.
Acredito sinceramente que a visibilidade que o podcast está adquirindo no Brasil é benéfica para a mídia, mas é importante entender que podcast é uma mídia, não um formato!
Por isso fiz uso das aspas anteriormente quando me referi aos podcasts de YouTube.
[Ainda concordo com essa afirmação, mas acho que aqui eu ainda estava imerso em um preciosismo desnecessário para discussão.
De fato, podcast é uma mídia. No entanto, ele se tornou tão versátil que pode ser visto como um formato de produção em vídeo, e isso não é um problema]
Mas vamos por partes…
O que é mídia?
Uma rápida pesquisa no google com exatamente essa pergunta nos dá a seguinte resposta:
“todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; o conjunto dos meios de comunicação social de massas [Abrangem esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a imprensa, os satélites de comunicações, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação etc.]”
Em outras palavras: Podemos entender uma mídia como sendo o meio que suporta o início da transmissão de uma determinada mensagem.
[Isso mesmo, eu do passado. Logo, essa mensagem pode ser transmitida via áudio, YouTube, ou por qualquer outro lugar]
As redes sociais são mídias pois suportam o início de uma determinada mensagem (por isso são chamadas também de “mídias sociais”). O rádio, a televisão, o cinema, fotografia, vinil, jornal, livros, e claro também o podcast são mídias e funcionam de forma independente. [palestrinha]
O que ocorre no YouTube são videocasts. Programas com a mesma estrutura de um podcast, mas transmitidos em vídeo. Um podcast necessariamente precisa ser distribuído via podcasting (Feed RSS).
[Todo mundo que já produziu ou pesquisou o mínimo sobre podcasts já de separou com essa discussão. Tecnicamente está certo, mas eu só estava sendo chato. De novo, preciosismo]
Eu sei, estou sendo apenas chato e preciosista [SIM!], e inclusive não acho que chegue a ser um problema que chamemos esses programas do YouTube também como podcasts. Mas julgo ser importante que a pessoa interessada em produzir o seu próprio programa saiba a diferença entre esses dois tipos de produtos: Um canal no YouTube com um formato que emule o podcast, ou de fato um programa sendo distribuído na mídia podcast. [A pessoa pode até querer saber essa diferença, mas na prática não vai mudar nada. Apenas foque em começar a gravar!]
Digo isso pois, vendo a forma como as pessoas que consomem apenas YouTube estão começando a entender o podcast, surge um receio que eu gostaria de compartilhar. [Beleza, esse receio que vem a seguir é compreensível até hoje]
A barreira de entrada
Sendo um produtor de podcasts e fundador da CMON! Podcasts [Essa produtora não existe mais. Hoje consigo entender que era cedo demais para pensar em ter uma produtora. Enfim, aprendizados], acredito que a melhor coisa para do cenário Brasileiro (carinhosamente chamado de “Podosfera” pelos ouvintes recorrentes) naturalmente seja o máximo de pessoas produzindo e consumindo podcast.
Isso incentivará a criação de mais programas e o uso da mídia como publicidade pelas grandes marcas.
Este seria o cenário ideal. Mas como a pessoa interessada em produzir seu próprio programa vai iniciar o projeto pensando que ela precisa de um equipamento audiovisual para dar o start? A barreira de entrada fica muito maior! [De fato, esse é um questionamento que eu acho válido e ainda carrego até hoje, sem resposta].
Pensando de forma prática, o que eu precisaria hoje (Fevereiro/2021) para fazer um canal minimamente aceitável no YouTube? [“aceitável” é subjetivo. Eu diria apenas “para começar um canal no YouTube”]
Um celular ou uma câmera
Alguma solução mínima para iluminação
Um microfone
Levando em conta os preços desses acessórios, na realidade brasileira, essa pessoa gastaria, no mínimo, algo entre 4 e 5 mil reais. O nível mínimo de aceitação do público geral do YouTube aumentou muito. Não é qualquer celular hoje em dia que tem qualidade — e capacidade — para uma pessoa sair gravando e postar no YouTube sem grandes preocupações.
[Sim, é verdade. Em 2024, os celulares estão ainda mais poderosos e, de fato, hoje em dia, com um aparelho intermediário, é possível obter uma qualidade de gravação satisfatória. Minha preocupação principal era: a produção para o YouTube está mais profissionalizada agora, a ponto de apenas um celular não ser tão útil se não for combinado com alguma solução de iluminação e áudio (principalmente). Isso para vídeos gravados previamente. Em um podcast, onde muitos gravam ao vivo, a estrutura demandada é bem maior.]
Agora, o que você precisa para produzir um podcast com uma qualidade de áudio minimamente aceitável (não profissional, mas aceitável):
Um app qualquer que grave a sua voz. Qualquer celular tem essa capacidade.
Um edredom
Um armário
É isso.
[Até menos, na verdade: Um bom texto e um microfone.
O edredom dentro do armário é uma técnica simples para resolver alguns problemas de eco, mas nem todo mundo precisaria disso]
O custo de entrada para a produção de um conteúdo via podcast é muito menor do que o custo inicial de um canal no YouTube.
Caso você não acredite nessa informação, deixo abaixo um episódio do “Meu Pano de Pia” um podcast que tive o prazer de editar no ano passado e foi gravado exatamente com a estrutura citada acima:
[Uma pena esse podcast ter durado tão pouco. Era bem legal de produzi-lo! E sim, foi gravado dentro de um guarda-roupa com o microfone de um iPhone 7, se não estou enganado].
Se uma pessoa pretende começar a produzir podcasts, não tem nenhum dinheiro para investir no início do projeto (como na maioria dos casos) e ainda por cima pensa que para começar precisaria ter um jogo inteiro de câmeras e luzes, perdemos o que poderia ser um(a) ótimo(a) produtor(a).
É interessante revisitar materiais que produzimos anos atrás.
Depois de três anos, muita coisa mudou para mim: mudei de cidade, de emprego, casei, aprendi muito com meu filho e por aí vai.
Posso dizer que minha opinião sobre esse assunto ainda é a mesma, só que um pouco mais “soft”.
Antigamente, costumava me incomodar quando vídeos no YouTube se chamavam de podcasts, mas hoje em dia percebo que temos pouco controle sobre isso. Quem decide se algo é ou não um podcast é o público! Não adianta eu querer rotular um vídeo como VIDEOCAST. Podcast é uma mídia específica distribuída via feed RSS. No entanto, também se tornou um formato de conteúdo no YouTube, e não vejo problema nisso.
Eu ainda o considero como uma mídia porque foi assim que aprendi quando comecei a estudar o assunto. Mas se você o chama de formato, isso não muda nada, contanto que o conteúdo seja bom.
No fim do dia, o que realmente importa é a história que você conta no microfone.
Mas minha dúvida persiste quanto à percepção do público de que um podcast precisa de câmera, equipe e iluminação. E ainda não tenho uma resposta.
Você não acha que o YouTube aumentou o custo inicial de um projeto que antes era predominantemente produzido e distribuído apenas em áudio? Deixe seu comentário aqui para eu saber!
Um grande abraço,
E até mais!